A Quinta do Covelo, é uma cicatriz de um longínquo pedaço de história há
muito vivido na Invicta Cidade. Foi uma nobre propriedade setecentista,
como atesta a sua traça, e era conhecida como a Quinta do Lindo Vale,
ou da Boavista. O seu primeiro proprietário foi um fidalgo chamado Pais
de Andrade e terá sido herdada pelas suas filhas que a venderam a um
rico negociante chamado Manuel José do Covelo, desde então que assim
ficou conhecida.
Por sua morte, foi sepultado na capela que era então devotada a
Santo António, sendo a quinta depois vendida pelos seus descendentes em
1829 ou 1830, a Manuel Pereira da Rocha Paranhos, cujo nome foi então
adoptado pela propriedade e por esta portuense freguesia.
A sua sorte foi breve e o seu fado foi ditado pelo cerco de D. Miguel ao
Porto, cujas tropas ali se instalaram com batarias que metralharam a
cidade durante neste nefasto capitulo da história portuense.
A sua localização não só privilegiava a linha de fogo, como também
impedia o abastecimento dos sitiados, tornando-a num valioso ponto
estratégico que fustigava diariamente a cidade e infligia pesadas
baixas. A 16 de Setembro de 1832, foi tomada pelas tropas liberais num
assalto com mais de 1400 homens, tendo sido palco de um violento combate
desta guerra fratricida. A quinta foi incendiada e destruída nessa
ocasião, e desde então que os seus escombros testemunham este triste e
sangrento episódio.
Mas a vitória foi de pouca duração, pelo seu valor
estratégico foi novamente conquistada pelas tropas absolutistas, que em
Março de 1833 a tomaram num combate pírrico.
Tendo iniciado o seu urgente reforço como reduto para garantir a sua
posse, levantaram paliçadas para se defender um novo ataque, mas D.
Pedro reagiu de imediato, e a 9 de Abril recomeçou o assédio a esta
fortaleza. O ataque foi liderado pelo coronel José Joaquim Pacheco com
bombardas de artilharia. Cruzando os fogos de três outras batarias,
castigaram severamente este bastião durante todo o dia, desalojando as
tropas de D. Miguel pondo-as em fuga, tendo sido ocupada por uma força de
200 homens. No dia seguinte estes foram atacados por um contingente de
2000 soldados das forças do rei absoluto, que foram desbaratados num
decisivo momento que mudou o curso da nossa história.
No passado mais recente, a propriedade foi dividida por doação testamentária com
impedimento de indivisibilidade em duas escrituras, a favor do
Ministério da Saúde, com a finalidade de ali ser feito um hospital para
tuberculosos, e da CM do Porto para um parque público. O Ministério da
Saúde nunca mostrou interesse em cumprir essa última vontade do generoso
legatário, a CM do Porto, não só a cumpriu com rigor, como também tenta
sem sucesso desde 1983, que lhe seja cedida a restante propriedade para
dar continuidade a este popular projecto.
É no mínimo bizarro que dois organismos estatais que deviam garantir o bom funcionamento do mesmo em prol de uma população, não se consigam entender, revelando ganância, arrogância e ignorância em que todo o País fique a perder...
http://ruasdoporto.blogspot.pt/2008/09/quinta-do-covelo-no-tempo-do-cerco.html
Se o solar fosse restaurado, seria sem uma dúvida um edifício cheio de dignidade, perfeito para alojar qualquer serviço público. Mas julgo que as entidades estatais preferem encomendar edifícios novinhos em folha a arquitectos como aquelo Gonçalo Byrne, que fazem umas coisas medonhas todas cinzentas. Enfim, valha-nos o Gastão mais o seu blog, onde chama a atenção de um património lindíssimo e ao abandono.
ResponderEliminarAbraços
O solar encontra-se habitado ao que sei por familiares dos últimos proprietários, numa casa aparentemente degradada mas que serve também para criação de pavões, patos galinhas d'Angola e galinácios. É a área privada da Quinta do Covelo
ResponderEliminarsou descendente de Manuel Pereira da Rocha Paranhos e moro no Rio de Janeiro. Gostaria de ter maiores informações sobre a família. Existe algum brazão?
ResponderEliminarNão é verdade que a Quinta do Covelo seja habitada por familiares dos últimos proprietários. Moro em frente à Quinta e sou amigo da família.
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